Orgulho e amor próprio

Para falar sobre amor próprio precisamos compreender o real significado dessa palavra tão conhecida. É necessário resgatar o contato com o que sentimos por amor, o que vivemos com amor e o que dedicamos para o amor. Amor não é exclusividade de apaixonados, nada tem a ver com a paixão.É o sentimento acalenta o peito, percebemos no olhar de alguém, no brincar inocente do cachorro, ao sentir a presença calorosa do pai, o colo seguro da mãe, o cafuné gostoso da avó, o abraço quente do avô, o beijo que estremece o coração, o choro sentido de um filho. Sentimos no corpo o acesso da alma. Quando vivemos esses amores, e amamos, e perdemos, e machucamos, nos fechamos. Bloqueamos o acesso a qualquer tentativa de aproximação. Paramos de reconhecer o amor, nos detalhes, nos gestos, nos carinhos. Tudo perde o brilho e o sentido, e começamos a nos defender de sentir dor, não quero me machucar, prefiro ficar aqui, só. Nesse momento entra em cena o orgulho, cheio de si, sem estar em si mesmo. Pura dor, pura defesa. As consequências disso são notórias, nada parece afetar, uma capa de aparente frieza, interesses rasos… ações superficiais pela fuga constante de algo que o possa trazer de volta: sentir, prazer, vida. A raiz do orgulho é o medo, querer ser forte, poderoso e não demonstrar sensibilidade, como se respirar fosse estranho, sentir fosse errado, frescura, drama. Em um ambiente onde homem não chora, quem trata das emoções é maluco e a riqueza financeira é o sonho de muitos, não me admira que estejamos cada vez mais nos perdendo do amor próprio, que nos preserva, respeita, valoriza e faz transbordar afeto para o outro, como desejamos sentir e receber. Há quereres medíocres, onde o desejo verdadeiro nem se sabe dizer, menos ainda viver. Quanto menos o orgulho impera, maior a sensatez do gesto de amar, a vida vai resgatando sua beleza, ainda que o sofrimento esteja presente, não podemos abrir mão dele, traz realidade, é sentido e, enquanto evitarmos a dor, evitamos o prazer e os sentimentos que nos traduzem, nos dizem, nos revelam. A dor é inevitável, ela nos resgata do orgulho, paramos de competir e julgar; fere o poder, enxerga a potência, de dentro pra fora, e nos possibilita amar de novo, mesmo com medo, ainda que haja cicatrizes, buracos, podemos cuidar de cada um, com calma, sem invadir as feridas. Permita-se viver enquanto há tempo, busque a si mesmo e vai encontrar o que pulsa no seu próprio coração: o amor. Por Vanessa Gonçalves